quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Segundo Sexo


Certa vez um amigo me disse: “eu realmente não vejo qualquer vantagem em ser mulher. Vocês precisam estar constantemente no salão de beleza, gastam fortunas com cosméticos, roupas, e se preocupam em tempo integral com a balança. E esses são somente alguns dos prejuízos em ser mulher”.
Ele disse isso porque, como é cabeludo (e de cabelo ruim), por isso precisa estar freqüentemente visitando o salão de beleza para cuidar de suas madeixas.
A minha indignação foi tanta diante daquela afirmação que não consegui articular uma resposta a altura no momento. Que pensamento machista é esse? Nós mulheres somos superiores aos homens em muitos aspectos, e além da vantagem da sedução (que cá entre nós é talento feminino nato!), somos seres misteriosos, indecifráveis aos olhos masculinos. Vou argumentar...
Primeiro devemos pensar nos termos de Simone de Beauvoir, ou seja, a mulher como o segundo sexo. Meu amigo nem sabia, mas sua afirmação vai de encontro com um dos temas da feminista francesa, em seu livro ela afirma que “o homem é o sujeito, o absoluto; ela é o Outro”. E fico pensando porque o homem parece ser tão ameaçado pela mulher a ponto de colocá-la historicamente neste lugar, no segundo lugar, no lugar do outro.
Bom, os homens se sentem ameaçados pelas mulheres pelo modo sutil e eficaz que nós temos de manipular as relações. Sim, porque qual são as armas de ambos os sexos, aquilo que usamos para nos defendermos diante de uma situação ameaçadora? Façamos uma viagem de volta no tempo, no período pré-histórico.
Os homens possuem a força, a virilidade. Antes das armas vieram os corpos.
As mulheres não contam com isso. Numa briga, ao medir forças, os homens certamente ganharão. Mas o que elas possuem? A fala. Sim, o mesmo motivo de deboche para conosco, “mulher fala demais”. Falamos, sim ,e isso é o que temos de mais admirável.
A mulher não tem força, assim precisa aprender a observar, pensar, dialogar com seu semelhante, para, desse modo, chegar a um denominador comum (ou não). Pensemos agora na literatura.
Capitu, no imaginário coletivo é vista como a tipificação do feminino. Diante de um marido que a via como uma deusa mitológica ela foi mestra na manipulação. Sempre foi vista por Bentinho como misteriosa, dissimulada, soube como ninguém manter um homem sob seu controle. Nunca disse nem que sim – nem que não, para sua traição. E aí estava sua sabedoria. Diva.
Emma, ou Madame Bovary, apesar de seu trágico final, sabia como ninguém manipular seu provinciano marido Charles. Alimentada pela literatura que consumia fervorosamente na juventude, queria viver amores dramáticos e avassaladores, não se contentava com o limitado mundo que seu casamento oferecia. Era uma mulher moderna para seu tempo, amava os homens, não se contentava com sua vida de mulher burguesa do século XIX. E, com toda sua esperteza e trejeito, muitas vezes conseguia o que queria. Diva.
Para não encompridar a conversa, entendo que o homem precisa de músculos, a mulher de cérebro. Hoje as mulheres se destacam justamente nas carreiras onde é preciso raciocínio, pensamento estratégico. Fico pensando onde o mundo não estaria se as mulheres tivessem sido permitidas utilizar seu poder desde os primórdios. Será que teríamos tantas guerras, armas de múltiplos tipos, chefes de Estado que não conseguem entrar em um denominador comum...
Acho que encontrei o motivo pelo qual as mulheres assustam tanto os homens. Com o poder delas, não há como lutar. Mas, definitivamente, não somos o segundo sexo, pois, sem nosso “segundo” sexo, o “primeiro” nunca teria existido.
Juliana Tokita.

3 comentários:

  1. São os lugares institucionalizados de "mulher" e "homem" que me incomodam... Porque os homens não podem passar horas se preocupando com cosméticos e em como está o cabelo e em que roupa irá usar, e ainda assim ser homem? Porque uma mulher não pode entender de futebol, não ligar para a moda e usar o cabelo do jeito que acordou e ainda ser mulher? Não somos o segundo, nem o primeiro, somos sexos, subjetividades, infinitas, inumeras, diversas... Quando vamos poder conviver com isso sem ser um problema, né? ou não? rs.

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  2. Ah! E porque o cabelo dele é "ruim"? Pode ser bom também, depende da perspectiva! hehe

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  3. Oi Ju!
    Seu texto é tão feminista quanto o comentário de seu amigo foi machista..

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