segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O caminho de uma alma qualquer em um mundo nenhum

A alma vagueava no Vale Sombrio dos Desejos.
Negrume névoa que venta sem saciar
da brisa sublime, acariciando seu ventre.
Uma alma a inventar uma veemente história que parecesse ser verdadeira.
Na criação de seu ideal incrivelmente fantasioso
era, a alma, todo aquele que acreditava ser.
E seu trabalho aumentava dia-dia
conforme o que confiava, sua mente, ser deveras.
Verossímil, era, somente na imaginação.
De um fértil campo na aurora da minha vida.
No perfume da infância querida deleitava-se em seu engenhoso devaneio.
Na cidade das Vontades seus desejos concedidos,
bebendo da fonte do emaranhado de sua mente
crescia as aspirações só alcançadas naquele mundo de ilusão.
Voa alto, desce e infla,
como a vida de um balão segue a alma seu destino.
Sem saber a distinção entre isso ou aquilo,
Transitando entre o ser e não-ser,
O que é
E tudo que são.
É somente uma alma perdida na utopia de um lugar estável onde todos somos normais.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Farta volúpia




Num corpo aveludado
de insinuantes curvas
moro.
Gracioso formato me envolve,
alva pele me veste.

De carnes arredondadas
e num curvilíneo contorno
minha figura se desenha.
Formosas formas, alegorias de uma Deusa,
Cheia,
Abundante,
Profusa.

Fartas delícias te hipnotizam,
seios ingentes e deslumbrantes, doces ninhos te afagam
Corpo fonte de libido, templo do teu prazer.

Pousada em seu leito,
deitada sobre seu tronco,
em sutil toque te encontro,
Num macio contato te entorpeço,
Minha silhueta te prende
aconchegante tálamo do deleite.

Desperto o teu profano
em movimentos certos, nunca falho, conheço suas vontades...

Desabrochando em prazer
ao longe, os ecos se confundem,
somos dois
fundidos,
Uno.
Única forma de amar que conhece.
Extravagante cobiça essa
A de amar
Uma tenra mulher macia.



Juliana Tokita.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Prazeres de uma mulher macia




Sou gorda
Tenho o corpo envolto por camadas
delicadas e macias.

Sou a tradução do teu desejo,
a amante e amada.
Tenho em mim,
voluptuosas curvas que atrevem
olhares indiscretos,
ameretriz dos seus sonhos secretos,
minha figura te desafia.

Tenho pesares
por estas raquíticas mulheres
que não sabem dos prazeres carnais
de uma mulher tenra.
Sou fonte de libido
jorrando de um corpo farto de delícias.

Meus seios te convidam
aos prazeres da alcova,
minhas tão suntuosas ancas se abrem
como feitas para o coito.

Tenho a natural feminilidade
guardada em carnes arredondadas
e a vontade de ser tocada
no âmago de minha sensibilidade.

(Juliana Tokita)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quando o adjetivo feminista se tornou pejorativo?



Toda ação tem uma reação,
Todo ato sua conseqüência,
Toda pergunta uma resposta.
O mundo como conhecemos não o é antes de ter sido.
Não há sincronia na história,
Nem sempre foi assim, garoto cyborg, sujeito pós-moderno!!!
Acorde, pense, estude antes de julgar
leia antes de criticar.
...
Era uma vez um lugar muito distante onde o sexo masculino reinava,
Lá, as mulheres tinham direito a escolher três profissões para sua vida social:
O de filha, mãe e esposa.
Poderiam ir para o caminho do celibato e negar sua sexualidade também, vale lembrar.
Ou escolher pela vaidade e luxúria, se tornando meretriz, vivendo à margem, vale notar.
Naquele mundo o homem era o Ser, a mulher é o Outro (como um dia disse Simone)...
Como lá era chamado?
Patriarcalismo.
E qual o sistema vigente?
Machismo.
...
Na reação daquela ação alguma coisa tinha que acontecer.
A conseqüência demorou, mas vingou.
Como se chamava?
Feminismo.
Algumas mulheres que não eram nem santas nem demônias resolveram questionar,
Se sou mãe, então posso opinar,
Sou filha, posso não querer casar,
Sou esposa, mas posso, muito bem, trabalhar.
Sou alguém,
Não outro,
Sou humana, sou capaz.
E foram à luta.
...
Hoje tudo é diferente,
Nem se sabe mais o que é sufrágio,
A palavra “subalterna” quase não existe nos dicionários da língua falada nas ruas.
Mulher trabalha, vota, casa-descasa, trai, faz sexo casual....
Tudo o que os homens sempre fizeram durantes alguns milhares de anos.
Mas, como a memória do homem e da mulher (também!) é curta
E a gratidão é pouca,
Em algum lugar no tempo alguém achou que aquelas mulheres estavam indo longe demais,
Queria muito,
Eram demasiadamente radicais.
E o ser feminista,
Se tornou ser anti- sexo masculino.
Quanta besteira ( penso cá com meus botões).
Todo efeito tem um defeito.
Sem um pouco de radicalismo não há mudança.
Se as mulheres pedissem baixinho: “por favor, homens, eu queria tanto poder votar e trabalhar..”
Tenho a impressão que não daria certo.
Tudo que é exagero faz mal, já dizia minha mãe.
Mas sem o choque não existe resultado,
Sem a dor não há aprendizado.
Instrua-se, e não caia no senso comum,
Obrigada.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Das relações do eu e do outro na atividade de leitura-escritura


" De que é feito um texto? Fragmentos originais, reuniões singulares, referências, acidentes, reminescências, empréstimos voluntários. De que é feita uma pessoa? Pedaços de identificação, imagens incorporadas, traços de caracteres assimilados, o todo (se se pode dizer assim) formando uma ficção chamada eu."
Michel Schneider, Voleurs de mots, , 1985, p. 12.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Segundo Sexo


Certa vez um amigo me disse: “eu realmente não vejo qualquer vantagem em ser mulher. Vocês precisam estar constantemente no salão de beleza, gastam fortunas com cosméticos, roupas, e se preocupam em tempo integral com a balança. E esses são somente alguns dos prejuízos em ser mulher”.
Ele disse isso porque, como é cabeludo (e de cabelo ruim), por isso precisa estar freqüentemente visitando o salão de beleza para cuidar de suas madeixas.
A minha indignação foi tanta diante daquela afirmação que não consegui articular uma resposta a altura no momento. Que pensamento machista é esse? Nós mulheres somos superiores aos homens em muitos aspectos, e além da vantagem da sedução (que cá entre nós é talento feminino nato!), somos seres misteriosos, indecifráveis aos olhos masculinos. Vou argumentar...
Primeiro devemos pensar nos termos de Simone de Beauvoir, ou seja, a mulher como o segundo sexo. Meu amigo nem sabia, mas sua afirmação vai de encontro com um dos temas da feminista francesa, em seu livro ela afirma que “o homem é o sujeito, o absoluto; ela é o Outro”. E fico pensando porque o homem parece ser tão ameaçado pela mulher a ponto de colocá-la historicamente neste lugar, no segundo lugar, no lugar do outro.
Bom, os homens se sentem ameaçados pelas mulheres pelo modo sutil e eficaz que nós temos de manipular as relações. Sim, porque qual são as armas de ambos os sexos, aquilo que usamos para nos defendermos diante de uma situação ameaçadora? Façamos uma viagem de volta no tempo, no período pré-histórico.
Os homens possuem a força, a virilidade. Antes das armas vieram os corpos.
As mulheres não contam com isso. Numa briga, ao medir forças, os homens certamente ganharão. Mas o que elas possuem? A fala. Sim, o mesmo motivo de deboche para conosco, “mulher fala demais”. Falamos, sim ,e isso é o que temos de mais admirável.
A mulher não tem força, assim precisa aprender a observar, pensar, dialogar com seu semelhante, para, desse modo, chegar a um denominador comum (ou não). Pensemos agora na literatura.
Capitu, no imaginário coletivo é vista como a tipificação do feminino. Diante de um marido que a via como uma deusa mitológica ela foi mestra na manipulação. Sempre foi vista por Bentinho como misteriosa, dissimulada, soube como ninguém manter um homem sob seu controle. Nunca disse nem que sim – nem que não, para sua traição. E aí estava sua sabedoria. Diva.
Emma, ou Madame Bovary, apesar de seu trágico final, sabia como ninguém manipular seu provinciano marido Charles. Alimentada pela literatura que consumia fervorosamente na juventude, queria viver amores dramáticos e avassaladores, não se contentava com o limitado mundo que seu casamento oferecia. Era uma mulher moderna para seu tempo, amava os homens, não se contentava com sua vida de mulher burguesa do século XIX. E, com toda sua esperteza e trejeito, muitas vezes conseguia o que queria. Diva.
Para não encompridar a conversa, entendo que o homem precisa de músculos, a mulher de cérebro. Hoje as mulheres se destacam justamente nas carreiras onde é preciso raciocínio, pensamento estratégico. Fico pensando onde o mundo não estaria se as mulheres tivessem sido permitidas utilizar seu poder desde os primórdios. Será que teríamos tantas guerras, armas de múltiplos tipos, chefes de Estado que não conseguem entrar em um denominador comum...
Acho que encontrei o motivo pelo qual as mulheres assustam tanto os homens. Com o poder delas, não há como lutar. Mas, definitivamente, não somos o segundo sexo, pois, sem nosso “segundo” sexo, o “primeiro” nunca teria existido.
Juliana Tokita.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Como Prometeu roubou o fogo de Zeus


No obscuro revés, lá eles viviam.
Pouca fecundidade e muito caos, o negro manto da noite reinava seus dias.
Ninguém pensava,
só viviam,
nada questionavam,
apenas obedeciam.
O frio e o escuro
sombrio e denso eram os contrastes,
as sensações,
as texturas daquele lugar
Daquela vida.
Os sabores e cores,
Variavam na paleta do preto fuligem ao cinza ardósia.
E viviam naquela frígida, pálida rotina.
Um dia, um meio-homem, meio-deus quis saber o que existia naquele tão obscuro lugar.
E se apaixonou.
Saiu dali desnorteado, prometeu tirá-los das trevas, queria salvar aqueles belos.
Seus corpos eram fortes, seus músculos talhados como mármore branco.
Prometeu não conseguia tirar aquela visão de sua mente. Precisava salvar aqueles seres melancólica-incrívelmente – belos.
Foi até o topo mais alto da montanha mais fria e íngreme. Entrou como um coelho ágil e esperto naquele castelo dourado tão frio por fora e tão claro e quente por dentro.
No centro do salão, próximo ao trono: lá estava!
Brilhando como ouro, com chamas inquietas e voluntariosas – o fogo de Zeus.
Sem pensar em vacilo, armadilha ou morte, tomou a tocha em suas mãos e fugiu.
Prometeu só queria levar a luz para aqueles belos homens. Ele realmente os amava.
E, chegando à escura caverna, pôde olhá-los com clareza
A pele branca como a neve, os cabelos castanho-dourado, o corpo esculpido em músculos torneados.
Somente aquela visão já teria valido apena ter roubado o fogo de Zeus.
Os homens entusiasmados, se entreolhavam sem acreditar. Se tocavam, sentiam-se alegres, percebiam as múltiplas cores que existiam no lugar e que eles nunca antes viram.
Abraçaram-se e se beijaram, não podiam acreditar quão belos eram seus corpos. Se amaram.
Depois, vestiram roupas, criaram armas, saíram da caverna e encontraram mulheres.
Procriaram, construíram lares, destruíram outros, brigaram entre sim. Alguns se mataram. Outros traíram seus irmãos, engordaram e deformaram seus corpos.
E nunca mais acreditaram em promessas.

Juliana Tokita